O resultado de um estudo detalhando dados dos usuários de
crack no Recife foi apresentado no anfiteatro do Centro de Ciências Sociais
Aplicadas (CCSA) da UFPE, na manhã desta terça-feira (13). Informações como
porcentagem por sexo, idade e há quanto tempo consome a droga foram apresentadas
pela professora Roberta Uchoa, de Serviço Social e coordenadora do Grupo de
Estudo de Álcool e outras Drogas (Gead).
pesquisadora Roberta Uchoa |
Com o título Entre
pedras e tiros: perfil dos usuários, estratégias de sobrevivência e impacto
social do uso do crack, o levantamento é inédito no estado. A coleta de
dados durou seis meses e adotou como base os prontuários de usuários com
passagem em Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas (CAPs AD)
entre julho de 2010 e junho de 2011. O
estudo faz um recorte por sexo e mostra que os homens são maioria entre os
pacientes registrados, 78% contra 22% de mulheres.
A professora Roberta Uchoa destaca que não é mito a história
de que o álcool serve como porta de entrada para outras drogas, sobretudo o
crack: "Embora nosso propósito inicial tenha sido investigar a incidência
de consumo do crack, ampliamos nossa abordagem para identificar a ocorrência de
outros psicoativos que, na maioria das vezes, surgem como associados na rotina
de consumo desses usuários e revelam tendências de comportamento relevantes,
como nesse caso, como previsto, apareceu o álcool".
Questões como número de usuários por classe social também
foram levantadas. Segundo Roberta Uchoa, bairros de classe média como Boa
Viagem, Casa Forte, Espinheiro, Apipucos apresentam uma porcentagem que varia
de 2% a 3% entre os pacientes atendidos nos CAPs AD do Recife, seja por causa
do álcool ou do crack. Ao contrário dos pacientes de bairros de classes populares
como Casa Amarela, Ibura, Nova Descoberta, Santo Amaro cuja porcentagem de
pacientes internos varia de 26% para usuários de álcool e 17% para os de crack.
Roberta Uchoa lembra que usuários de classes diferentes não
têm o mesmo tratamento quando procuram por ajuda: "Os dados sugerem que os serviços públicos de saúde especializados
no tratamento de problemas relacionados às drogas, ainda são pouco referenciados
pela classe média recifense". Quando buscam apoio, os usuários da
classe média recorrem à rede privada ou a entidades filantrópicas.