O curso em questão propõe apresentar e analisar as novas vertentes do cinema contemporâneo que hibridizam linguagens, recusam o psicologismo, a herança jornalística, o esquema televisivo e procuram romper os rígidos limites entre o cinema chamado de ficção e não-ficção almejando nova formas narrativas. Através da exibição de fragmentos de filmes representativos desta tendência, a realização de exercícios interpretativos, e a exposição de métodos de direção inovadores que caracterizam este conjunto de obras ainda dispersas, a Oficina pretende mostrar e estimular outras experiências alternativas ao cinema de resultados que monopoliza a produção atual. Durante o curso serão reveladas todas as etapas de pesquisa histórica, de linguagem, concepção, realização e finalização de um filme sintonizado com as questões centrais em voga no cinema independente ou de não-ficção que dialoga com a tradição do documentário de criação expresso na obra de Agnes Varda, Alain Resnais, Chris Marker, Van der Keuken, entre outros autores. Componentes valorizados nesta forma de expressão emergente como a polifonia na construção do discurso, o sujeito na poesia, a dramaturgia formal, a eleição dos personagens, a paisagem sonora e a incorporação de não-atores na trama, serão abordados sistematicamente. Além de trechos de filmes, serão trabalhados os principais textos e manifestos que identificam os conceitos e as premissas teóricas dos autores que marcaram época como “Os 14 Dogmas do Documentário” do diretor Alberto Cavalcanti que preconizou as sinfonias urbanas e revolucionou o uso do som no documentário britânico. Teóricos como Bill Nichols, Gilles Deleuze, Jean-Louis Comolli, Ismail Xavier ou mesmo o cineasta Robert Bresson com suas “Notas do Cinematógrafo” servirão como referência conceitual para subsidiar as aulas. Outros aspectos a serem abordados na oficina, dizem respeito à correspondência do cinema com outras artes afins, o improviso consequente, a criação da mise-en-scene (no campo não ficcional), Considerados heréticos, invariavelmente pela tradição do “cinema-verdade”, tais recursos servirão para exemplificar os procedimentos que diferenciam o “cinema de exceção” - conforme a acepção godardiana – do enfoque convencional, apoiado estritamente no caráter descritivo do “real”. Estratégias de representação, a desconstrução da realidade aparente, a relação particular-universal, e a postura ético-estética do autor em relação ao “outro”, serão questões a serem refletidas a partir de experiências pontuais, ao longo da oficina.Módulos do curso:
a) Métodos de abordagem: o tema
b) A contaminação do real: o conceito.
c) A Investigação histórica e iconográfica.
d) Do Argumento ao pré-roteiro.
e) Da entrevista ao Personagem: a reinvenção da nomenclatura.
f) A pesquisa de linguagem: Luz e enquadramento: a cena de origem.
G) A reciclagem histórica: o uso do material de arquivo.
h) O sujeito da poesia, a poética das coisas e a voz no documentário.
i) A paisagem sonora e a oralidade musical.
j) A montagem: ressignificação do “real”.
k) A relação ética/estética e o pacto com o “ Outro”.
Filmografia utilizada:
“Iracema, Uma Transa-Amazônica” de Jorge Bodansky e Orlando Senna
-“Mato Eles ?” de Sérgio Bianchi – “Aruanda” de Linduarte Noronha - “Di” de Glauber Rocha - “Couro de Gato” e “Poeta do Castelo” de
Joaquim Pedro de Andrade - “As Praias de Agnes” e “Ulysse” de Agnés Varda - “Sun Light” de Gustavo Galuppo - “JLG por JLG” de Jean-Luc Godard - “Home Stories” de Mathias Muller - “Nós” de Artazaud Pelechian - “Insfree” de José Maria Guerin -“Big Ben” de Van der Keuken - “I Clown” de Federico Fellini - “Nanoouk” e “Homem de Aran” de Robert Flaherty -“O Homem com a Câmera” de Dziga Vertov -“Berlim, Sinfonia de uma Cidade” de Walter Ruttman -“Ritmos de uma Cidade” de Arne Sucksdorff
Bibliografia básica:
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus Editora, 2005.
BRESSON, Robert. “Notas sobre o Cinematógrafo” ,( Iluminuras, Editora).
CAVALCANTI, Alberto. Filme e realidade. RJ, 1977: (Editora Artenova).
COMOLLI, Jean-Louis, Ver e Poder, (Editora UFMG, 2008).
Breve currículo do instrutor:
JOEL PIZZINI Cineasta Autor de ensaios documentais premiados internacionalmente como "Caramujo-Flor" (1988), "Enigma de Um Dia"(1996) "Glauces" (2001) e "Dormente" (2006), Joel Pizzini conquistou com os longas "500 Almas" (2004) e "Anabazys"(2009), os premios de Melhor Filme, Som, Fotografia, Especial do Júri, Montagem, nos Festivais do Rio, Mar del Plata, e Brasília. Para a televisão, a convite do Canal Brasil, realizou os retratos "Um Homem Só"(2001), "Elogio da Luz"(2003), "Retrato da Terra" (2004), "Helena Zero" (2006), entre outros. Conselheiro da Escola do Audiovisual de Fortaleza e Professor da PUC- Rj (pós-graduação em Comunicação), Faculdade de Artes do Paraná, Pizzini é Curador das retrospectivas "Cinema de Prosa x Cinema de Poesia"(2004), "O Cinema segundo Pasolini" (2005), "Faces de Casavetes"(2006), "Festival Jodorowsky"(2007), e "Estratégia do Sonho, o Primeiro Bertolucci"(2008). Foi artista residente da Unicamp onde desenvolveu projeto sobre a passagem de Rosselini no Brasil e do Arsenal/Fórum da Berlinale, dentro do projeto “Living Archive”. Trabalha ainda como Curador da Restauração da obra de Glauber Rocha, co-dirige os documentários extras dos dvds do cineasta como "Depois do Transe" e "Milagrez". Pesquisador de novas linguagens, participou do projeto Artecidade e da Bienal de Sã o Paulo, Mercosul com videoinstações e direção de performances. Diretor de “Elogio da Graça”(selecionado para o “Visions du Reel”em Nyon, Suiça )e Mr. Sganzerla, vencedor do Festival É Tudo Verdade (2010) e HBRFF em Los Angeles. Lançou recentemente seu novo filme "Olho Nú" (filmensaio sobre Ney Matogrosso), co-produzido pelo Canal Brasil e Paloma Cinematográfica.
Iniciativa e Produção: Centro Cultural Benfica/Coordenação de audiovisual
Número de vagas: 40
Carga horária; 12h
Horas/Aula por dia: 03 horas/dia
Duração em dias: 03
Turno : tarde
Inscrição: GRATUITA (no dia da aula levar 02 kg de alimento perecível para ser entregue no posto de arrecadação de doação para vítimas da seca no sertão e agreste pernambucano)
Público alvo:
Dirigido a realizadores, estudantes de artes e interessados em experimentar as potencialidades do audiovisual como expressão artístico-cultural, o curso deseja oferecer uma visão ampla das experiências de ponta no cinema que se faz no mundo hoje, com especial atenção ao nosso país, no sentido de fomentar a produção de filmes que recriem, transcriem e não apenas reproduzam a realidade.
Quando: 19 a 21 de dezembro de 2013
Onde: Centro Cultural Benfica/Recife-PE
Como se inscrever: Enviar um breve currículo e um pequeno texto expondo qual o interesse em realizar a oficina.
Email para envio: centroculturalbenfica@gmail.com
Início inscrição: 10 a 18 de dezembro de 2013
